segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Chuva ácida

Alma dilacerada
Noite chuvosa
Cantos vazios.
Sob olhares imperceptíveis e ao mesmo tempo perceptíveis; apenas sinto que esta dor que sempre me tomou,
insiste em permanecer.

Não a ignoro, faço questão de absorvê-la. Prefiro assim que ela sempre se precipite que seu fétido cheiro
e sua atmosfera única preparem-me para toda e qualquer situação.

Faz-me forte
sentir que posso fazer desta imensa dor um escudo.
Proteção, diante do meu casulo estereotipado,
minha alma sombria não se sente amedrontada.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Anjos e Demônios

Vivo em um mundo só meu
Onde não importa a tua oração
Por trás das paredes das casas
Por trás da imagem e ilusão.

Não vivo no mundo dos homens
Vivo em outra dimensão
Não há honestos nem infames
No abismo da perdição.

Não sou pessoa terrena
Sou carne dispersa a vagar
Sou mente impura a escrever
Sou alma ferida a sangrar.

Ao bem e ao mal não pertenço
Sou um reles ser oriundo
Um humano de alma vazia
Que vive em seu próprio mundo.

A negatividade me atrai
A negatividade me repele
Sou o equilíbrio entre as forças
A neutralidade me persegue.

Sou a sobra da falta
E a sobra do resto
Sou um vivo sem vida
Sou um vivo sem gesto.

Um dementado à espreita
Teu pior pesadelo
Sou tão mortal quanto o fogo
Sou tão frio quanto o gelo.

Roubarei tuas lembranças
Deixarei tuas tristezas
Roubarei tuas forças
Através de tuas fraquezas.

Sou o lacre violado,
O inverso e o reverso
Metade demônio inocente
Metade anjo perverso.

Invocarei o teu rancor
Pra retirar tua harmonia
Provocarei a tua dor,
Tua última gota de agonia.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Saudades em Vermelho

Na saudade ungi-te em meu peito
Fiz-te, então, sacra ternura de mim
Q’ainda aninho doce, em meu leito
Chorando calado num tom carmesim

Rasga-me a carne viver desse jeito
Falta-me o ar – é tão rarefeito -
Ao saber que te tenho longe assim
Mas este sudário não é de todo ruim

E calando as palavras escritas em giz
Pois ter-te-ei, quer não ou quer sim
Afoga-te em meu verso, em diretriz

Afinal estamos distantes d’um fim
Chama tingida em rosado cetim,
Vertida sangria do amor em verniz.